POEMA LOUCO

Para Mário Chamie

O tempo se desfaz,

Serena lesma

Em paz.

A vida mesma

A incapaz

Num às de más.

Sou eu que me descubro

Rubro e louco,

Como há pouco inteiro cubro

Distante e rouco

O mês de outubro.

Um gás sem mas

A paz sem ás

Um cubro rubro

Descubro outubro

Em louco pouco.

A paz de lesma,

A vida mesma,

Outubro pouco

E um rubro louco.

S.P., 01/01/94

TEU OLHAR

 

Para Ruth

Teu olhar perfurou o meu sorriso

Esfrangalhando o canto apocalíptico,

Com a força forjada em outro piso,

Em pintura isolada ou vista em tríptico.

Dilacerado o cerne de minha alma,

Teu olhar se espalhou na carne nua,

Sanguinolenta e estanque, em muita calma,

Como a passada vida pela lua.

Teu olhar toledano, feito espada,

Não permitiu suspiros e nem mágoa.

Derrubou meu aprumo pela escada,

Que afundava num triste mar sem água.

Teu olhar decompôs o tempo espaço,

Que eu construíra há muito, passo a passo.

S.P., 02/01/94

PARA RUTH

 

Apenas uma quadra nesta noite,

Após um filme em tempo que é de fada.

Teu olhar me fustiga qual açoite

E curva-me a teus pés, querida amada.

S.P., 03/01/94

4 DE JANEIRO

 

No dia 4 de janeiro.

Um ponto neutro do universo,

Li e escrevi o dia inteiro

Reproduzindo o mesmo verso.

S.P., 04/01/94

QUIMERA

 

 

O tempo desta quimera

Tem bandeirantes no espaço.

Caminham rios de espera

No silêncio de se passo.

S.P., 05/01/94

 

 

PASSADO MORTO

 

Encontrei-te, em minha vida,

Como um barco encontra o porto.

Busquei-te desde a partida,

Desfeito o passado morto.

S.P., 06/01/94

 

 

O UNIVERSO

 

Um soneto desfeito por inteiro,

Na penumbra do tempo sideral,

A transformar o cosmos num vespeiro

De corpos do Universo, cor de sal.

A noite em pontos brancos ganha espaço,

O silêncio expandindo-se na luz,

Que o infinito descobre a cada passo

E o cristão no mistério de uma cruz.

As novas, na explosão, geram o pulso,

Que mede a dimensão do campo astral.

Assim eu resto, pasmo sem impulso,

Medindo pelo bem o fim do mal.

O universo na origem sem limite

Espanto causa a mim, por mais que o fite.

S.P., 07/01/94

 

A CHUVA

 

A chuva tomba lá fora

Num dilúvio de verão

Nada digo, muito embora,

Tenha pleno o coração.

S.P., 08/01/94

NOITE SEM LUZ

Mais versos dominicais

Em uma noite sem lua,

As roupas pelos varais

Desvendam a carne nua.

S.P., 09/01/94

CAMINHADA INCERTA

 

O sentido da luz descobre o espaço

E a solidão do céu fere o infinito

Há sombras pelo eterno em cada passo

Que cria no Universo o próprio rito.

Por mais veloz que seja, é sempre lasso

O movimento etéreo deste mito

Expande-se no cosmos, sem inchaço,

O limite do tempo não descrito.

A terra mal desvenda a própria idade

E a vida, que hospedada na distância,

Se perde pelas brumas recoberta.

O mistério solver não há quem há-se

Só Deus, a quem pertine, última instância,

Julgar a caminhada mais que incerta.

S.P., 10/01/94

DUAS QUADRAS

 

Para Ruth

Duas quadras fazem onze

de Janeiro nesta Agenda.

Os versos o som de bronze

já não têm na mesma senda.

Duas quadras. Nada mais,

Lembranças do tempo antigo,

Dos gritos de samurais

E do amor feito contigo.

S.P., 11/01/94

 

 

RUTH

 

É noite do dia doze.

Só uma quadra componho.

Por mais que eu lute ou repouse,

Tu és bem mais que um sonho.

S.P. 12/01/94

 

 

O VELHO

 

O velho encontra a forma.

A reforma informa o velho.

Espelho este retrato num só ato.

Mal sensato

O próprio fato

Que ora espelho.

O Eu do Espaço. Sempre lasso. Mal escasso.

Desfeito o passo,

Que repasso, no mormaço

Feito d’aço.

O Eu pequeno.

Destempo ameno. Sem sereno a noite.

Não descobre o Reno no reino

Outrora mundo do Eu pequeno.

O velho é velho. Ou quase velho.

Assim espelho o velho velho.

S.P., 13/01/94

REFLEXO

 

“Eu te amarei hoje e sempre”

Escrevi quando menino.

Hoje já velho e cansado

Repito o canto pretérito.

“Eu te amarei hoje e sempre”.

O tempo desfaz as forças,

Mas não desfaz o que é forte.

O tempo se torna breve,

Porém o querer eterno

Refaz as forças que restam.

“Eu te amarei hoje e sempre”.

Jaguariúna, 14/01/94

ATO RECÍPROCO

 

O amor não é um ato recíproco.

É apenas um ato altruísta

Isolado em sua essência

E quase sempre ignorado.

Se, algumas vezes, é recíproco

Na coincidência tem raiz.

Querer o bem do outro é pouco humano

Por isto o amor não é tão simples

E fere de tanto em tanto

A natureza das coisas.

O egoísmo da posse desejada

Traz no máximo

A imagem de amor desfigurado.

Em que o “ter” vale bem mais do que o “ser”

E o “ser”

Se desfaz

Sem ter nascido

O amor, quando ele é puro,

Encanta sempre

E entristece

Se, na impureza do outro,

Não descobre o porto amigo.

Nem por isto desfalece,

Porque o amor

Jamais é um ato recíproco.

S.P., 15/01/94.

 

PARA REGINA

A Regina determina.

Como sempre eu obedeço,

Meu amor pela menina

No Universo não tem preço.

S.P., 16/01/94

Um quase haikai.

Três vezes só

Sem nada mais.

S.P., 17/01/94

CAMINHO ESTRANHO

 

O coração pára, às vezes,

E não distingue

Seu horizonte.

Perde-se nas dúvidas do passado

Desconhece o fluxo presente

Sem vislumbrar as névoas do futuro.

Somente o nada sou

Restabelece

A harmonia interior

E sinaliza

Um caminho que nunca dominei,

Mas do qual desisti.

S.P., 18/01/94

ÀS VEZES

Às vezes nem tempo tenho

Para escrever uma linha

E o peso de estranho lenho

Traz a lembrança que tinha.

Às vezes curvo-me, lasso,

Sem esperança e sem nada,

Procurando um novo espaço

Para uma nova balada.

Às vezes, nem sei se, às vezes,

Vale a pena meu trabalho,

Mas continuo nos meses

Fazendo versos que espalho.

Às vezes paro espantado,

Sem ter você de meu lado.

S.P., 19/01/94

A TARDE

 

A tarde chuvosa

Relembra o passado.

O dia retem

A vida presente.

O susto do vento

Descobre a incerteza

Do tempo futuro.

Assim resto pasmo,

Com olhos abertos

Buscando o cenário

De um outro cenário

Atrás colocado

De meu panorama.

A tarde chuvosa

Relembra o passado

E o dia retem

A vida presente.

S.P., 20/01/94

NEM SEMPRE

 

 

Nem sempre o dia que corre,

Corre como desejamos

Como ele nasce, ele morre

Deixando flores sem ramos.

Nem sempre o dia descobre

A verdade procurada,

Mas tem um toque de nobre

Sem futuro e sem mais nada.

Nem sempre a noite me encontra

Após um dia, cansado,

Esguia como uma lontra

Não tendo forma, nem lado.

Nem sempre sou o que quero

Nem por isto desespero.

S.P., 21/01/94

IDADE

O meu cansaço, desfaço

Todo o dia com vontade,

Mas não consigo no espaço

Esconder a própria idade.

S.P., 22/01/94

IDADE

Um toque de muita classe

E mais nada.

Muitos, na vida, refletem

Este toque

Tão vazio

E repleto de muita classe.

S.P., 23/01/94

EU SOU

O que fazer,

Senhor?

O tempo escasso

Não tem espaço

No amanhã.

O fruto triste

Ninguém o quer.

O que fazer,

Senhor,

Sem fruto e sem amanhã?

Nada sou. Apenas sou.

O que eu sou. Eu sou.

S.P., 24/01/94

SÃO PAULO

Um poema para teu dia,

Minha São Paulo querida,

Fundada em tempos de outrora

Sempre repleta de vida.

Minha São Paulo dos índios,

Das Bandeiras e conquistas,

Minha São Paulo altaneira

Marcada por treze listas

Minha São Paulo de Nóbrega,

Anchieta, Borba e Ramalho

De Fernão, Raposo e tantos

Cujos nome alegre espalho.

Canto teu dia de glória

De uma forma não isenta,

Nestes anos que perfazem

Quatrocentos e quarenta.

S.P., 25/01/94

 

MEIA-NOITE

Uma quadra à meia noite

Sem motivo e sem razão

O vento se torna açoite,

Porém fustiga-me em vão.

S.P., 26/01/94

SEM TALENTO

Um outro dia, outra quadra

Para cumprir a promessa

Seu talento mal se enquadra

Em verso. Ninguémos peça.

 S.P., 27/01/94

SEMPRE

 

Todos os tempos

Todos os rítmos.

Nunca a destempo

Cantos marítimos

Ode da tarde

Salmo da noite

Ventos que ardem

Como um açoite.

Não sei que faço.

Nem sei se vale

Cubro um espaço

Descubro o vale.

O rio corta

O morro agreste

A mente entorta

A rota Leste.

É tudo o mesmo

E tudo é nada.

Versejo a esmo

Sem capa-espada

Sou sempre assim,

Pobre e macabro,

Mas do jardim

A porta eu abro.

S.P., 28/01/94

DIAS

O tempo sempre me afeta.

Nos dias de muito sol,

Fico alegre,

Mas não me desespero

Se o dia se faz de nuvens.

O difícil é lutar

Nos dia de muita chuva

Para manter a alegria.

 Mas luto.

S.P., 29/01/94

  

DOMINGO

É domingo de Janeiro

O derradeiro do mês.

Descanso o domingo inteiro

Fazendo versos de vez.

Teu retrato a minha tez

Chega de fato e rasteiro.

Na Fazenda pasce a rez

Não distante do celeiro.

Assim trilho meu caminho,

Já sendo tarde de estio

À busca de teu carinho.

A vida corre num fio

Sem flores e sem espinho

Na espera do tempo frio.

S.P., 30/01/94

SOMBRA

 

 O mês termina silente

Mais uma vez pela rua.

Nada surge e de repente

Descubro a verdade crua.

A imagem fria da lua

Não torna ninguém descrente

A passagem fez-se nua

E mostra do espaço o dente.

Nenhuma sobra na luz,

Nenhuma luz feita sombra,

Nenhum um campo me reduz.

Nem tapete, nem alfombra.

Sinto-me apenas na cruz

Vivendo de luz e sombra.

S.P., 31/01/94

SEM NADA

Este único quarteto

No começar Fevereiro,

Sem música e sem coreto

Sem luzes e sem letreiro.

S.P., 01/02/94

MAIS UM DIA

Um dia igual aos demais,

Um dia sem muito mais,

Um dia cheio dos ais

Das crianças e dos pais,

Um dia que assim jamais,

Fará dos outros iguais,

Sem trabalho junto ao cais,

Sem mares pelos varais

Repletos de roupa e sais,

Como a gente dos choupais.

S.P., 02/02/94

MARASMO

Nunca vi tanto marasmo,

No meu sentir apoético.

Não sei colocar sarcasmo

Se descubro o rosto cético.

Anda o tempo tão sereno,

Nada obstante a procela.

Tenho saudades do Reno

E da cerveja amarela.

Escrever todos os dias

Uns versos não sei porque

É como, nas maresias,

Não se ver o que se vê.

Hoje o tempo é de cansaço,

Perdido no próprio espaço.

S.P., 03/02/94

OLHAR DA NOITE

Olhar da noite

O temporal distante

Não amedronta.

O calor incomoda,

Mas desperta

Anseios de tempos pretéritos.

O olhar da noite,

Entretanto,

Desfaz as sombras do passado

E fortalece o presente

Sem anseios.

S.P., 04/02/94

NADA SOU

 O mistério da noite triste

Não sei como desvendar.

Meu coração nunca viste

Mesmo em noites de luar.

A verdade não resiste

Ao torpor do relembrar.

Na planície o tempo insiste

Em procurar sempre o mar.

Sinto agora mais cansaço.

A incerteza de meu passo

Não repara o teu momento.

Teu silêncio no deserto

Faz-me assim tão descoberto.

Nada sou, nem represento.

S.P., 05/02/94.

 DOMINGO

Desprender-me das pequenas coisas,

Que geram contrariedades,

E vê-las, como se Deus,

Quisesse me preparar

para ser filho fiel.

A noite serve de escudo

Aos pensamentos de sempre,

Só que agora

Deus conduz a minha vida.

S.P., 06/02/94

TRABALHO

Trabalho sem cessar,

Olhos postos na multidão,

Que desconhece

O Senhor.

Mais que o trabalho

Desejo

Levar aos outros a Imagem

De Quem no tempo

Conseguiu que o tempo eu retomasse.

Amo-Te, Meu Deus.

S.P., 07/02/94

QUADRA NO FIM DO DIA

Uma quadra solitária.

Como estou na noite escura,

Sinto bem a faixa etária,

Nesta noturna aventura.

 S.P., 08/02/94

SEM REPARO

Tantos anos sem reparo

Dos fracassos sucessivos

Ilusão, roda sem aro,

Formada de tons esquivos.

S.P., 09/02/94

DESTINO

Vou correr pelo infinito,

Sem estrelas no meu canto,

Meu coração tem seu rito

Que me causa sempre espanto.

O verão por acalanto

Traz um tom bem esquisito,

Mas não chega no recanto

Que formatei neste mito

Sou eu que assim me desfaço

Recolhendo a cada passo

O tempo desde menino.

Nada sobra nesta tarde.

Soluço um sol que não arde

Esculpindo meu destino.

 S.P., 10/02/94

 ?

Tanto fiz que nada resta.

A vida se torna em festa

Nas cores do dia estranho.

Tudo faço por inteiro,

Neste mês de Fevereiro,

Com versos que mal arranho.

S.P., 11/02/94

59 ANOS

 Nos meus cinquenta e nove ri de novo.

Este velho palhaço volta à cena

Do universo refeito onde me movo,

Carregando-o nas costas sem antena.

Os sonhos transformaram-no em palhaço.

As ilusões fizeram-no um moleque.

O tempo vai correndo e faz-se escasso

Na espera servil do eterno breque.

O passado destilado no presente

Não descortina a vida no futuro.

O que se tem no mundo pela frente

É solo que não tem piso seguro.

Aos cinquenta e nove ri de novo

Do universo agreste onde me movo.

S.P., 12/02/94

VERSO VICÁRIO

Um quarteto solitário

Num domingo barulhento,

O verso corre vicário

Do meu olhar sonolento.

S.P., 13/02/94

MEU SILÊNCIO

O meu silêncio é a voz da madureza

Que cobre a densidade de meu verso.

O tempo neste tempo é só presteza

No passo calmo e lento do Universo.

O meu silêncio é a voz que me conduz

Nos caminhos despertos para o Eterno.

Tem agora o contorno de uma cruz

Que torna primavera mesmo o inverno.

O meu silêncio é a voz do meu descanso

Repleto de trabalho e muita luta.

Alguém que sempre foi fez meu avanço

E continua assim na minha escuta.

O meu silêncio é a voz do meu futuro,

Que torna muito claro o que ora escrevo.

S.P., 14/02/94

AVE MARIA

O fim do dia está perto.

Portão aberto,

Na casa recomposta,

Livre e posta

Nessa encosta.

A noite não está longe.

Ouve-se um monge

Na calmaria

Do fim do dia.

Ave Maria.

S.P., 15/02/94

MESMO VERSO

Todo o dia o mesmo verso.

Todo o dia a mesma rima.

Só me resta, no Universo,

Vê-la do mundo por cima.

S.P., 16/02/94

 I

Três quadras para três dia.

A primeira é para a quinta,

A segunda tem estrias,

Na sexta sem muita tinta.

S.P., 17/02/94

II

A terceira é para o sábado,

Mas se mistura à segunda,

Pois não tendo rima em ábado,

A solução é rotunda.

S.P., 18/02/94

 III

Eu continuo meu verso,

Para cumprir a promessa.

Todo o dia fico imerso,

Neste escrever sem ter pressa.

S.P, 19/02/94

O SENHOR

O Senhor é meu pastor,

Nada me pode faltar.

Viva a alegria ou a dor,

Está sempre em meu altar.

S.P., 20/02/94

CAMINHEIRO

Cada um o seu caminho

Deve seguir, por inteiro.

Nunca caminha sozinho,

Quem é fiel caminheiro.

 S.P., 21/02/94

MINHA SENHORA

Teus olhos, minha Senhora,

Fitam-me sempre, serenos.

Desde onde Teu Filho mora

Tu Reinas em muitos reinos.

S.P., 22/02/94

REGINA

À minha filha Regina,

Peço de Deus proteção,

Ela adora Jesus Cristo

Tendo a Mãe no coração.

S.P., 23/02/94

ROGÉRIO

Para meu filho Rogério,

Peço que encontre o caminho,

Que Deus mostra a quem o ama,

Com muito amor e carinho.

 S.P., 24/02/94.

SEXTA-FEIRA

Sexta-feira,

Nada mais.

Alma inteira

Nos varais.

Todos ais

Que eu não queira

São sinais

Sem maneira.

Vejo o cais

Pela beira,

Colhem sais

Nesta esteira.

Nada mais.

Sexta-feira.

 S.P., 25/02/94

SÁBADO

Este verso

Isolado

Do Universo

É colado.

S.P., 26/02/94.

 DOMINGO

  No Domingo

Nada faço.

Nem um pingo

Neste espaço.

S.P, 27/02/94

ÚLTIMO DIA

Último dia do mês.

A promessa até aqui

Foi cumprida por inteiro.

Todos têm a sua vez.

Lembro-me apenas de Ti,

Neste fim de Fevereiro.

 S.P., 28/02/94

TEU RIMAR

 Teu encanto faz meu canto,

No recanto, que acalanto,

Sem espanto e sem ser santo,

Que no entanto tem seu tanto.

Teu olhar de Trafalgar,

No piscar para afagar

E afogar a lua par,

Gera o lar de mar âmbar.

Teu antiste muito triste,

Mal resiste o que me assiste,

Dedo em riste, que não viste.

Repetiste o som de Lizt.

Teu amor nasceu com dor

E incolor no seu ardor.

S.P., 01/03/94

SÃO PAULO

Meu São Paulo sem sossego,

Do Palmeiras mal destino,

Jogando futebol cego,

Com o pobre Bragantino.

 S.P., 02/03/94

REI

Num dicionário de rimas,

Rimas novas encontrei.

Não só elas obras primas,

Mas também eu não sou rei.

S.P., 03/03/94

SOTURNO

A cidade luzidia,

Perde o brilho no noturno.

Vale apenas a alegria

Que lhe tira o tom soturno.

 S.P., 04/03/94

SONHAR

Meu sonhar é sempre novo

E sempre nova a existência.

Neste mundo mal me movo

Na busca da própria essência.

S.P., 05/03/94

FILME

Um filme só de aventura,

Que apenas assim ocorre.

Por você sinto ternura,

Num amor que nunca morre.

S.P., 06/03/94

FERIDA

 Uma quadra pelo atraso.

Surge no espaço da vida

Meu afogar pelo raso

De um mar aberto em ferida.

S.P., 07/03/94

AÇO

Aço. Mormaço. No espaço.

Inchaço. Lasso no Paço.

Rechaço o passo do laço,

Que caço no maço escasso.

S.P., 08/03/94

 ROSTO

 Ruidoso dia interposto,

No silêncio do escritório.

Tenho na mente o teu rosto,

E meu caminhar inglório.

 S.P., 09/03/94

QUATRO ROSAS

No dia das quatro rosas

Só uma delas nasceu.

Era uma rosa simplória,

Que logo depois morreu.

S.P., 10/03/94

 OUTRO DIA

Mais uma quadra de espaço,

Mais um dia sem mormaço,

Mais um poema que faço,

Mais um verso sem cansaço.

S.P., 11/03/94

 A NOITE

A noite refaz o tempo,

O tempo refaz a vida,

A vida encontra na morte,

A sua própria ferida.

S.P., 12/03/94

JARDIM

Este meu pobre acalanto,

No domingo já no fim,

Lembra-me o velho canto,

Que eu cantava no jardim.

S.P., 13/03/94

ALEGRIA

Segunda-feira e rotina

Nada de mais pelo dia.

Lutei, cansado e silente,

Para mostrar alegria.

S.P. 14/03/94

 SONETO

Um soneto nas alturas,

Voo meu voo da TAM,

Há verdades e aventuras

Desde os tempos do deus Pan.

Um soneto rotineiro,

Mesmo sendo em pleno voo,

Cumpro a sina por inteiro

E nestes versos me escoo.

Um soneto sem mais nada,

Descubro a saudade intensa,

Como toledana espada

Rasgando o mal que não pensa.

Um soneto sem espanto

Com que concluo meu canto.

S.P., 15/03/94

PROMESSA

A quadra que não fiz ontem,

Hoje faço por promessa.

Que os outros os versos contem,

E que você não os peça.

S.P., 16/03/94

PEÇA CHAVE

A peça chave quem é?

Não sei e sei que não sabes.

Nós ficaremos a pé,

Desde que tu não desabes.

S.P., 17/03/94

 

A noite sinto-me só.

A vida corre depressa,

E vai transformando em pó

Tudo aquilo que é promessa.

S.P., 18/03/94

SÃO JOSÉ

 

Ó São José, meu Senhor,

O meu caminho de vida,

O Teu olhar e calor,

Curam-me estranha ferida.

S.P., 19/03/94

DOMINGO

Na piscina dia vinte,

Os filhos e seus namoros,

O domingo tem requinte

Com jazz, com sambas e choros.

S.P., 20/03/94

LIVROS

A noite leio meus livros,

Na busca do que anda perto.

Dos livros nascem sementes,

Fertilizando o deserto.

S.P., 21/03/94

 NADA

Pouco tempo e pouco verso.

É quase de madrugada.

Contemplo no sonho imerso,

A solidez do meu nada.

S.P., 22/03/94

AÇOITE

Mais uma quadra na noite,

Mais um caminho no espaço.

O cansaço dobra o açoite,

Que recebo a cada passo.

S.P., 23/03/94

THE PLANETA

Recebi a carta amiga,

Dos autores do Planeta.

No time sob meu mando

Não há jogador perneta.

S.P., 24/03/94

25

Duas quadras muito rápidas,

Uma para vinte e cinco,

Que de Março traz as lápidas,

Onde meu pé nunca finco.

S.P., 25/03/94

26

Para o dia vinte e seis,

A segunda eu a relanço.

Jamais chega a minha vez,

Só por isto não descanso.

S.P., 26/03/94

DESLEIXO

Fim do dia igual aos outros,

Não sei porque sempre deixo

Meus versos p’ro fim do dia.

Só pode ser por desleixo.

S.P., 27/03/94

NADA

Neste dia quase à noite,

Encerro minha rodada.

Muito trabalho com luta,

E a sensação de mais nada.

S.P., 28/03/94

RIMA PRÓXIMA

Uma quadra no escritório

Vale para vinte e novembro

Os meus versos são escólio,

Que a métrica não resolve.

S.P., 29/03/94

TEU OLHAR

Termino este dia trinta

Trabalhando sem parar.

Almejo ter meu repouso,

Olhando no teu olhar.

S.P., 30/03/94

TERCEIRO MÊS

Já finda o terceiro mês.

Tenho cumprida a promessa.

Noventa versos por vez,

Escritos sem muita pressa.

 S.P., 31/03/94

À FALTA DE SINO

Nesta sexta-feira Santa,

Meu coração vive a cruz,

Coberto na triste manta,

Que de propósito pus.

A verdade não espanta,

O sonho que me conduz,

Canta a vida canta, canta,

Numa explosão só de luz.

Nesta Santa Sexta-feira,

Descubro mais uma vez,

O Senhor de meu destino.

E minh’alma sempre à beira,

Faz o mesmo que já fez,

E reza à falta de sino.

S.P., 01/04/94

 LEITO

Para Ruth

A prece desce

Não intumece,

O espaço d’aço

Mal desconhece

No solo a messe

Num passo lasso.

Sou sempre o mesmo,

Pão e torresmo

Pelo caminho.

Caminho a esmo,

Num passo lesmo

Sem pão e vinho

Teu sonho intenso

Deixa-me tenso

E faço o verso.

Descubro incenso

No toque imenso

Deste universo.

Paro, desfeito,

A dor no peito

Não gera dor

Transponho o leito,

Onde me deito

Com meu amor.

S.P., 02/04/94

PÁSCOA

No Domingo de Páscoa,

Sinto não ter sido em vão,

A morte crucificada,

E sua Ressurreição.

S.P., 03/04/94

TRABALHO

Segunda-feira de sol,

A primeira de trabalho,

Na luta de todo o dia

Não sobra nenhum retalho.

S.P., 04/04/94

ENTERPRISE 74

No dia 4 de abril,

Três jovens rasgaram sonhos,

Pulando mares de anil

Por sobre montes medonhos.

Eram três heróis do espaço,

Nos caminhos siderais,

Marchando no próprio passo,

Sem nunca olhar para trás.

Ulisses, Walter, Renato,

Sem receio e sem mais nada,

Fundaram mesmo de fato

Um clube de capa e espada.

Assim nasceu o Enterprise.

“Startrek in Paradise”.

S.P., 05/04/94

 TVs

O cansaço uma vez mais.

Fim do dia. Fim do verso.

As televisões, por canais,

São retrato do Universo.

S.P., 06/04/94

 NADA

De repente, nada mais.

O passado desvanece,

O futuro não tem cais

E nosso presente messe.

S.P., 07/04/94

VAZIO

Um coração no vazio

Sem certeza no passado,

No presente um mar de estio

De um futuro não velado.

S.P., 08/04/94

 CANTO

Me resta apenas o canto,

Que afugenta a dor passada

E gira em torno do espanto,

De quem contempla seu nada.

S.P., 09/04/94

 SEM VIDA

Última quadra sem vida.

O peito desfeito inútil.

A imagem mal retorcida,

Não consegue nem ser fútil.

S.P., 10/04/94

  11 DE ABRIL

Onze de Abril. Teu espaço

Descortina o intemporal.

Nada busco e nada faço

No mais calmo temporal.

S.P., 11/04/94

MUNDO

Mundo, mundo vasto mundo

Disse-o Drumond, certa vez,

Não faltou-lhe rima em undo,

Faltou-lhe o que ele não fez.

S.P., 12/04/94

DRUMOND

Mas o que fez o Drumond

Não fez nenhum outro vate.

Quimbrasil, Rhodia, Dupont

São marcas que ninguém bate.

S.P., 13/04/94

MARCAS

Nas outras marcas também

Valem muito ou valem pouco,

Embora os preços que têm

Deixam sempre o povo louco.

S.P., 14/04/94

 POVO

O povo vive estressado

Desde o tempo de Sarney

Aquele dono do Estado

Que pensava ser seu Rei.

S.P., 15/04/94

 REI

Muitos hoje querem ter

Um reino presidencial,

São quatro imbecis a ver

O Brasil andar tão mal.

S.P., 16/04/94

O BRASIL

Se não houvesse Governo

O Brasil iria bem,

Mas é tal seu desgoverno

Que o melhor é a pátria sem.

S.P., 17/04/94

 DESFIAR

Cada quadra, cada dia,

Nenhuma vida na rua.

O tempo na mão desfia

A saudade d’alma nua.

S.P., 18/04/94

 SAUDADES

Aos poucos a idade avança,

Num caminhar decrescente.

Saudades da minha infância,

Sem problemas pela frente.

S.P., 19/04/94

 VINTE

Eu gosto muito do vinte,

O dobro de uma dezena.

Tem o seu próprio requinte,

Que na vida vale a pena.

S.P., 20/04/94

DESCOBERTA

O dia da descoberta

Foi no próprio mês de Abril.

A rota se faz incerta

Há muito no meu Brasil.

S.P., 21/04/94

 REPOUSO

Uma nova sexta-feira.

O dia se fez chuvoso.

Como se a semana inteira

Buscasse nele repouso.

S.P., 22/04/94

 ARREBOL

Hoje o dia nasce em sol,

Entretanto, um vento frio

Traz o inverno de arrebol

No fim da estação do estio.

S.P., 23/04/94

PARA REGINA

Para a Regina eu escrevo

Outra quadra sem remédio.

O tempo põe-se em relevo

Afastando-me do tédio.

S.P., 24/04/94

 FÁCIL

Não tem sido fácil

Cumprir a minha promessa.

Mas cumpro dia após dia,

Sem muita calma e sem pressa.

S.P., 25/04/94

ANISTIA INTERNACIONAL

Eis Lygia, Boris, Machado,

Porta-vozes da Anistia,

Fizeram vivo o passado

De um mundo que fenecia.

Trouxeram luz para o dia,

Espancando triste fado

E amando quem renascia,

Apesar de assassinado.

Caminhara, passo a passo,

Descortinando a destempo

A luta que agora avança.

Embaixadores do espaço,

Embaixadores do tempo,

Pela estrada da esperança.

S.P., 26/04/94

ESTRELAS

A noite se põe lunar.

E cria ventos de estrelas.

Não há na cidade mar

Num jeito para retê-las.

S.P., 27/04/94

 LUA PAR

O descompasso do espaço,

O pomar vestido a mar,

O mormaço feito d’aço,

Na visão da lua par.

S.P., 28/04/94

 ERA

Um silêncio pela espera,

Na rua dos meus varais,

Assim sou como já era

No me jardim de quintais.

S.P., 29/04/94.

DIA 30

Último dia do mês,

Última quadra de Abril,

Continuarei toda a vez

A desvendar teu perfil.

S.P., 30/04/94

1º DE MAIO

De São José Operário,

O dia se comemora.

A virgem do Escapulário,

Com ele por nós implora.

S.P., 01/05/94

SENNA

A morte do grande Senna,

Venceu o sonho da vida,

Gerando saudosa pena,

No fim da imagem querida.

Como primeiro na arena,

Liderou desde a partida,

Falecendo em plena cena

De malfadada corrida.

Teu nome já tem espaço,

No esporte do descompasso

Com gladiadores sem venda.

Neste mundo sem memória,

Cruzaste o tempo da história

E te transformaste em lenda.

S.P., 02/05/94

SENNA

O Brasil inteiro chora

A morte do grande Senna.

Resta muita, muita pena

Que n’alma de todos mora.

S.P., 03/05/94

 SILÊNCIO

Caminha a noite em silêncio.

Em silêncio eu só caminho.

“Inventionis” vem de inventio

E os pés geram o bom vinho.

S.P., 04/05/94

 CINCO

Eu gosto de ver o cinco,

Mas prefiro mais o seis.

Aquele rima com “finco”,

Mas este rima com reis.

S.P., 05/05/94

 SEIS

Prefiro pois a nobreza,

Que fincar pé de teimoso,

Meus versos são de incerteza,

Onde, só, sereno, eu pouso.

S.P., 06/05/94

 CIDADE

O quarteirão desta idade

Descobrem trajetos mil,

Perfuram nuvens de anil

E despencam na cidade.

S.P., 07/05/94

 SONO

O sono bate de vez.

Mal aguento versejar.

Estamos no quinto mês,

Sem terra à vista do mar.

S.P., 08/05/94

 MÃE

De teu marido e dos filhos

Estas flores no teu dia,

Seguem por ti os seus trilhos

Repletos desta alegria.

S.P., 09/05/94

 DUELO

Num debate para a mídia

Defendi o bom direito,

Oziris, a grosseria.

O duelo foi perfeito.

S.P., 10/05/94

 VOLTA

Pelos céus da minha terra.

Peregrino muitas vezes.

O governo que ela encerra

Deve morrer nestes meses.

S.P., 11/05/94

 PORTO ALEGRE

Dia 12em Porto Alegre,

Faço esta quadra no frio.

Não sei a quem eu entregue

O verso no fim do estio.

Porto Alegre, 12/05/94

 13 DE MAIO

No dia 13 de maio,

De Nossa Mãe eu me lembro.

Mostro amor no meu ensaio

Por Ela desde dezembro.

S.P., 13/05/94

 14

Quatorze é número par.

Depois do treze e na frente

Do quinze. Meu versejar

Para, sem fim, de repente.

S.P., 14/05/94

COTURNO

Muitas vezes no noturno

Fico a refletir silente.

Sinto da vida o coturno

Pisando-me, de repente.

S.P., 15/05/94

ESQUIVO

Carrego na noite adentro

Meu verso já sem motivo.

Da minha vida no centro

Tal verso se torna esquivo.

S. P., 16/05/94

 SOM

O som da noite extasia

Pelo silêncio sem som.

A lua serena espia

O que no mundo há de bom.

S.P., 17/05/94

PADRE

Eu vi o filme do Padre

E comovi-me de novo.

Não há quem Deus não enquadre

Após a imagem que louvo.

S.P., 18/05/94

SANTO IVES

O Santo que tem meu nome

E que me deu vocação,

No seu dia nunca some

Para quem não lhe diz não.

S.P., 19/05/94

ROBERTO

Roberto aniversaria

No dia 20 de Maio.

Transmite sempre a alegria

Com a rapidez de um raio.

S.P., 20/05/94

 SKOL

Fomos os dois p’rá Avaré.

O dia é pleno de sol.

Na Fazenda eu ando a pé,

E tomo à noite uma Skol.

S.P., 21/05/94

 FIM DE SEMANA

Escrevo em fim de semana

Na busca de inspiração,

O silêncio nela espana

Aquilo que busco em vão.

S.P., 22/05/94

 DIA 23

O dia correu difícil

E muita coisa não fiz,

Nem por isto em me abalei

Ou me tornei infeliz.

S.P., 23/05/94

DEUS

Sinto de novo o cansaço

De um fim de dia pesado,

Mas ganho em Deus meu espaço

E Seu Universo invado.

S.P., 24/05/94

REGINA

Minha promessa, Regina,

Segue, às vezes, de arrastão.

Tu és a minha menina

E tens o meu coração.

S.P., 25/05/94

SESSENTA

Os dias passam depressa.

Quase sessenta já tenho.

Não há quem idade meça

Neste verso que desenho.

S.P., 26/05/94

 SEXTA-FEIRA

A sexta, creio, passou.

Não passou o meu cansaço.

A vida toda encenou,

O meu tempo sem espaço.

S.P., 27/05/94

 SÁBADO

A Marlene não aguenta,

Uma quadra cada dia.

Eram menos nos quarenta

E tinham mais alegria.

S.P., 28/05/94

 AMOR

Meu verso corre, porém,

Na alegria do Senhor,

Como ele vai, ele vem,

E assim canto meu amor.

S.P., 29/05/94

CALADO

Eu devo ficar calado,

Já não posso mais falar.

Por Lydia discriminado,

Só resta-me, agora, olhar.

S.P., 30/05/94

 VELHICE

Hoje faço os versos de ontem,

Para cumprir o que disse.

Que todos sonhos despontem

Mesmo chegando a velhice.

S.P., 31/05/94

1º DE JUNHO

Chegamos, lassos, no Hotel.

Valeu a pena a viagem.

Vivemos numa Babel,

Sem escudeiro e sem pagem.

S.P., 01/06/94

 ANGRA

Hoje andei por sobre o mar,

Nos bancos de um helicóptero

Tudo é bonito de olhar,

Masnão tenho rima em óptero.

S.P., 02/06/94

O CORTE DA VISTA

P/ Freitas

Enquanto Geraldo fala

Eu vejo a mata distante,

Há uma fresta na sala

Que o verde nobre garante.

A palestra é muito boa.

O verde também é bom.

Ninguém no evento destoa,

Mantendo elevado tom.

Mas alguém desavisado,

Fechou o meu horizonte

Cerrando a porta do lado,

E da luz tirando a fonte.

Abra a porta, caro Freitas,

Aquela “às minha direitas”.

S.P., 03/06/94

 BUSSOROCA

E “Bussoroca” notícia

Pela morte prematura

Da moeda fictícia

Que nem serve p’rá “pindura”.

S.P., 04/06/94

SEMINÁRIO

Chegamos do Seminário

Sobre Direito Econômico,

Vimos jogar Romário,

Fazendo papel de cômico.

S.P., 05/06/94

 ROGÉRIO

Fez anos cinco mais vinte,

O caro filho Rogério,

Comemorou sem requinte

Num padrão de Monastério.

S.P., 06/06/94

 TERÇA-FEIRA

Terça-feira de cansaço,

A rima se faz dolente

E ganha curioso espaço

Ao despontar de repente.

S.P., 07/06/94

 BRASIL

O Brasil de novo joga.

A seleção do Parreira,

Que torna a tristeza em voga

E amargo sabor na esteira.

S.P., 08/06/94

HOMENAGEM ÀS AEROMOÇAS DA TAM

POR SUA MODELO MARILIA

Dona Marília da TAM

É melhor que a de Dirceu.

As nuvens parecem lã

No espaço do sonho seu.

S.P., 09/06/94

 EU MESMO

Já sinto não ser o mesmo

Do tempo na tatuagem.

Eu descubro estar a esmo,

Neste final de viagem.

S.P., 10/06/94

 MEU PAI

Com anos noventa e seis

Meu pai é sempre mais moço,

E faz mais do que já fez.

O meu velho é um colosso.

S.P., 11/06/94

 RUTH

No dia dos namorados,

Embora contra mim lute

Eu descubro nossos fados

No amor que tenho por Ruth.

S.P., 12/06/94

 SANTO ANTONIO

Um dos meus intercessores

Ao lado de Nicolau,

A vida pinta nas cores

Do bem que separa o mal.

S.P., 13/06/94

 RENATA

Minha querida Renata

Teus olhos de cor marinha

Têm ares de estranha mata

E sombras de eterna vinha.

O teu encanto arrebata

E tira o mundo da linha

De um outro mundo sem bata

E sem luz de quem caminha.

Neste teu aniversário

O soneto –meu rosário

De versos– o som desvenda

E descobre a formosura

De teu perfil sem pintura

Transformando o sonho em lenda.

S.P., 14/06/94

TEMPO ATROZ

São versos do tempo atroz,

Do tempo que já perdi,

Do tempo em que fico a sós

Buscando versos prá ti.

S.P., 15/06/94

 BRASIL

Corre o tempo, corre a vida,

Tudo corre neste mundo,

Só não corre esta ferida

Que nasceu num tom profundo.

S.P., 16/06/94

 NOITE E DIA

Noite e dia eu te procuro,

Amor do tempo perdido,

Que se perde pelo escuro

De meu passado esquecido.

S.P., 17/06/94

 ANTECIPAÇÃO

Antecipo o dia todo

Os versos para amanhã.

O mundo vive no engodo

Pensando ver prego em lã.

S.P., 18/06/94

SEMANA

Os versos desta semana

Eu os faço de antemão.

São versos de quem espana

Os restos da inspiração.

S.P., 19/06/94

 ROMÁRIO

O Brasil vence a primeira.

Sem correr Romário marca

E grita a nação inteira

Ser ele o nosso monarca.

S.P., 20/06/94

 SONETO PARA MARLIDINA

Faltou o bolo com vela

Na festa da Marlidina.

Apenas luz amarela

Para esta moça menina.

Os amigos, entretanto,

Fizeram mais do que um bolo,

Cumprimentando no encanto

Quem é dos pobres consolo.

Faço-lhe, pois, o soneto

Em festa de aniversário,

Lembrando sons de coreto

No dia de São Romário.

Parabéns, ó Marlidina

Que a amizade nos ensina.

S.P., 21/06/94

 

 

 

 

 

 

BRASÍLIA

Eu lutei pelas escolas

Em Brasília, no supremo.

O direito sem esmolas

Eu hoje já não mais temo.

S.P., 22/06/94

DIREITO

A volta do bom Direito

No Supremo Tribunal

Conforma o quadro perfeito

Sempre que o Bem vence o Mal.

S.P., 23/06/94

 CAMARÕES

O Brasil passa de novo

Por mais um adversário,

Mas deve seu bom começo

Aos pés de Santo Romário.

S.P., 24/06/94

 NOSSO PADRE

A missa de Nosso Padre

Foi como sempre profunda.

A graça de tê-lo alegra

E o Globo dela se inunda.

S.P., 25/06/94

SÉRGIO E CÉLIA

Recebi de Sérgio e Célia

Um fantástico bombom.

A amizade assim se espelha

Neste gesto de bom tom.

S.P., 26/06/94

 SEGUNDA-FEIRA

A fria segunda-feira

Só tem o calor interno,

Que esquenta a semana inteira

Neste começo de inverno.

S.P., 27/06/94

 28

Três quadras para este fim

De semestre trabalhoso.

Não vejo mais o jardim

Nem o tempo generoso.

S.P., 28/08/94

 29

Neste penúltimo dia

Recobro um pouco meu sonho,

Do Céu a Virgem Maria

Descobre o amor que lhe exponho.

S.P., 29/06/94

 30

Finalmente este semestre

Chega ao fim e recomeço

O meu trabalho de mestre

De uma escola que não meço.

S.P., 30/06/94

 1º DE JULHO

Três quadras para o semestre

Que começa em pleno frio,

Eu lembro o tempo silvestre

Da Fazenda e do arrepio.

S.P., 01/07/94

 2 DE JULHO

A minha mulher fez anos

Comemorando em família

Correm tempos soberanos

Por sobre o espaço sem trilha.

S.P., 02/07/94

 ARGENTINA

A Argentina está de fora

E só resta o meu Brasil,

Não aguento esta demora

Que o nosso orgulho feriu.

S.P., 03/07/94

 O.A.B.

Um debate sobre o plano

Nada de novo a respeito.

Deu-se à manga todo o pano

Na discussão do Direito.

S.P. 04/07/94

 DIA 5

À meia-noite de terça

Escrevo a quadra do dia,

Mas não sei sobre o que versa

Nem sei se traz alegria.

S.P., 05/07/94

 LUTA

Às vezes, penso comigo

Se a luta pelo Direito,

Que faz do amigo inimigo,

Bem vale a pena, a despeito.

S.P., 06/07/94

 ITAMAR

Sétimo dia de Julho

Uma fria quinta-feira,

Direito se fez entulho

Com Itamar de viseira.

S.P., 07/07/94

ITAMAR

Quanto mais vejo Itamar

Mais sinto não ser ninguém,

Quem não saber governar

Porque nunca foi alguém.

S.P., 08/07/94

 ITAMAR

Quem não conhece Direito

Não podia governar

De analfabeto o letreiro

Ostenta o velho Itamar.

S.P., 09/07/94

 ITAMAR

Não aguento o velho louco,

Eleito pelo P.C.

De inteligência tem pouco

E bom senso ninguém vê.

S.P., 10/07/94

 11

O cansaço sem limite

Passou a ser a constante

Não sei mais a quem eu fite

Neste sonho tão distante.

S.P., 11/07/94

 12

O trabalho é tão mais denso,

Cansativo e sem remédio,

Também não sei o que penso

Só não sinto nunca tédio.

S.P., 12/07/94

 13

O Brasil dos sonhos meus

Ganhou em pleno sufoco

Volto os olhos a meu Deus

E fico gritando rouco.

S.P., 13/07/94

 14

Quinta-feira sem descanso,

Mais um dia em minha vida

O sonhar que agora lanço

Tem tua imagem retida.

S.P., 14/07/94

 SEXTA FEIRA

Na sexta-feira o trabalho

Foi mais duro e bem mais tenso,

Nele pouco sei que valho,

Porém luto muito e penso.

S.P., 15/07/94

 SÁBADO

Minha mãe e o aniversário,

Mais uma vez junto aos filhos,

Comemorou com rosário,

De parabéns pelos trilhos.

S.P., 16/07/94

 DOMINGO

Não sei o que hoje vai dar,

Quando faço os versos quatro,

Assistirei no meu lar

O jogo e não no teatro.

S.P., 17/07/94

 SEGUNDA-FEIRA

 

 

O Brasil foi campeão,

Todo o mundo está feliz,

Rasgou-se meu coração

Nos versos que nunca fiz.

S.P., 18/07/94

DIA 19

 

 

A noite não tem caminho

Pelo espaço sideral,

A rosa não tem espinho

Num mar que nasceu sem sal.

S.P., 19/07/94

 DIA 20

A noite perdeu-se há muito,

O dia já vai tão longe,

Não tenho da verve fruito

Nem faço a prece de um monge.

S.P., 20/07/94

 21

O tempo passa ao relento,

O tempo passa depressa,

Não sinto do espaço o vento

Que meu versejar impeça.

S.P., 21/07/94

 22

Não sei bem mais que fazer

Para fazer o que sei

Procuro no meu lazer

Não ser só guarda da lei.

S.P., 22/07/94

 23

Choveu e fez muito frio

Neste sábado de inverno.

Tenho saudades do estio

E do calor subalterno.

S.P., 23/07/94

 24

Domingo dia de sol,

Tomei banho de piscina,

Tomei também uma Skol

E lembrei-me da Regina.

S.P., 24/07/94

 25

Estes teus versos, Regina,

Para cumprir a promessa

Eu os faço na piscina

Sem preguiça e sem ter pressa.

S.P., 25/07/94

 26

Os dias são de calor

Apesar do frio inverno,

O tempo do sol a cor

Tem no meu espaço externo.

S.P., 26/07/94

 27

De minha tia Zaira

Lembrei-me no dia dela,

No meu rezar tenho em mira

Pedir por sua alma bela.

S.P., 27/07/94

 28

Hoje estou não tão cansado.

Quase cai do cavalo.

O meu baio mal selado

Tentou jogar-me de estalo.

S.P., 28/07/94

 29

Nunca tive a sensação

De não manter o animal,

Mesmo com rédeas na mão

Seu pinotear fez-me mal.

S.P., 29/07/94

30

Antecipo o dia trinta,

Antecipo por amor,

Que a ninguém meu verso minta,

Quero Ruth com fervor.

S.P., 30/07/94

 DIA 31

Os anos são trinta e seis

Que me casei neste dia

Dele lembro cada vez

O que foi nossa alegria.

S.P., 31/07/94

TEMPO EM DOBRO

Preciso do tempo em dobro

Para fazer o que faço.

Por isto nunca me cobro,

Apesar de meu fracasso.

01/08/94.

 BANCA EXAMINADORA

Na Banca estavam fiscais,

De renda para julgar,

Julgamos, talvez, demais,

Após muito trabalhar.

02/08/94.

Mais uma quadra redonda,

Mais uma quadra de vez,

Não faço na noite ronda

No começo ou fim do mês.

03/08/94.

DIA 4

Os versos que correm soltos

Trazem um toque do espaço,

Fazem os sonhos revoltos

E fulminam meu cansaço.

04/08/94.

 INVERNO

Uma nova quadra faço

Refazendo o meu passado

Um inverno sem mormaço

Quase me deixa gelado.

05/08/94.

 DIA 6

Um sábado complicado.

Minha luta, sem vitória,

Sempre me deixa arrasado

E me perturba a memória.

06/08/94.

 MAIS UM DOMINGO

Mais um domingo que vivo

Trabalhando e ouvindo música

E lendo sem incentivo

E sem ter a rima em úsica.

7/08/94.

SENHOR

Faço, Senhor, minha luta

E luto para o Senhor

Amo o Senhor, que me escuta,

Meu Senhor e Deus de Amor.

08/08/94.

FRONTISPÍCIO

Quanta luta e quanta vida,

Quanto é grande o desperdício,

A tua imagem querida

É do amor o frontispício.

09/08/94.

 10/08

Urna dezena de Agosto,

São os dias já passados,

Sem vibração ou desgosto

E sem tristeza nos fados.

10/08/94.

PROFISSÃO

Para mim Onze de Agosto

Lembro sempre com prazer

Minha profissão de gosto

Que a terei até morrer.

11/08/94.

  SEXTA-FEIRA

Na sexta-feira um programa

Fiz de TV pela noite,

Do Governo a eterna lama

Nela bati com açoite.

12/08/94

 JAGUARIÚNA

Vim o sábado passar,

Aqui perto de Campinas.

Na piscina e não no mar,

Nadei, o sol nas retinas.

13/08/94.

 DOMINGO

O Domingo de meu pai

É meu Domingo também,

Enquanto a data não cai

Dela passo a ser refém.

14/08/94.

 JARDIM

A correria sem fim,

Assim passo meu dia.

Que saudades do jardim,

Que tinha tanta alegria.

15/08/94.

  16

Começo um dia  de novo

Sempre com muito a fazer,

Ninguém mais agora louvo

Quero ser para não ser.

16/08/94

 HORAS TRÁGICAS

O tempo passa correndo,

Como nas fórmulas mágicas.

À vida o tributo rendo,

Até mesmo em horas trágicas.

17/08/94

POSSE DE CARLOS MÁRIO

Vi a posse do Ministro.

Falaram Rosas e Mário.

Não houve toque sinistro,

mas beleza de rosário.

18/08/94.

  SEXTA

Mais uma sexta que passa.

Carrego a falta de sono,

Como o caçador que caça,

À noite, animal sem dono.

19/08/94.

VALOR

Sábado de inverno e sol.

No escritório meu trabalho

Faço à mingua e de arrebol.

Muito luto e pouco valho.

20/08/94.

 AGOSTO

Mês de Agosto, mês augusto.

Em Roma tudo era bom

NOS dois séculos sem susto,

Que nos traz da história o som.

21/08/94.

   SEGUNDA

Uma quadra na segunda,

Numa segunda de escuta.

A vida faz-se fecunda,

Sempre que nela haja luta.

22/08/94.

NA TERÇA-FEIRA

Eu lutei pela Anistia

No reduto do Comércio,

Em prol da vida e alegria,

Sem Miguel e sem o Tércio.

23/08/94.

FILHO

A família numerosa

Se faz de alegria e dor,

Hoje na terra alterosa

Sofreu o filho do amor.

24/08/94.

   QUINTA

Estamos neste retiro

Mais uma vez para Deus.

Nos seus atos eu me inspiro

Para viver para os meus.

25/08/94.

COM O SENHOR

Começo esta sexta-feira

Com Deus e Nossa Senhora,

O fim da semana inteira

Com o Senhor não demora.

26/08/94.

 FAMÍLIA

As saudades da família

São muitas quando à distância,

Que nem mesmo em redondilha

Eu as mato nesta instância.

27/08/94

DOMINGO

Eis o dia do Senhor,

Em que na Ressureição

Do mundo tirou a dor

E alargou o coração.

28/08/94.

SEGUNDA

Muito trabalho á segunda,

Como já fiz no passado,

A vida o trabalho inunda

Deixando tudo marcado.

29/08/94

TERÇA

Dei o círculo noturno

Na morada do Edilberto.

Minha voz, em tom soturno,

Nade trouxe a descoberto.

30/08/94

TEMPO

O tempo não mais controlo

Muita coisa por fazer.

O tempo é bebê de colo

Mesmo se for p’ra morrer.

31/08/94

 DONA LIA

Do Pará com muito encanto

E com bastante alegria,

Em Cuiabá sem espanto

Apareceu Dona Lia.

01/09/94.

 VIAGEM À CUIABÁ

Itápolis não distante

Tem imenso laranjal,

Pois segundo o comandante

É do mundo a capital.

02/09/94

 CONCEIÇÃO

E também lá do Pará

Com idêntica emoção,

Na Universidade está

A Senhora Conceição

03/09/94

DONA CÉLIA

Fizeram Célia e Altamiro

Educação evidente,

Depois de louco retiro

De Presidente Prudente.

04/09/94.

São dez anos vozes quatro

Qu’Eros casou com Helena

E fez dela seu retrato,

Dizenoo: Amar vale a pena.

05/09/94.

TERÇA

Os dias correm sem rumo,

Mas com muita agitação,

Têm do direito o bom fumo

Mas não têm conformação.

06/09/94.

 QUARTA

Convidado pra Ministro,

Não aceitei outra vez,

Já não tenho mais registro

Dos convites deste mês.

07/09/94

QUINTA

O convite no domingo

Não contei para os estranhos,

Mas um jornal de respingo

No sigilo fez arranhos.

08/09/94.

 SEXTA

Ao Itamar e Maurício

Disse ser advogado

E ter do trabalho o vício

De não querer outro fado.

09/09/94.

SÁBADO

A vocação do jurista

Não lhe permite esquecer

Todo o seu ponto de vista

Que defende até morrer.

10/09/94.

 

DOMINGO

Por isto quem do Direito

Faz o seu modo de ser

Traz esculpido no peito

Seu amor por tal viver.

11/09/94.

JARDIM

Uma corrida sem fim,

Assim eu passo o meu dia.

Longe está lindo jardim

Que nos meus versos crescia.

12/09/94.

CURITIBA

Eu cheguei de Curitiba,

Onde fui falar segunda.

A palavra foi de arriba

E a repercussão rotunda.

13/09/94.

CONSELHO

O meu Conselho Jurídico

Brigou com o Plano Real.

Este destino fatídico

Ao Brasil tem feito mal.

14/09/94.

LUTA

Quinta-feira sem descanso,

Mas também sem ter cansaço,

Os versos ao mundo lanço

Que se desfazem no espaço.

15/09/94.

6a. FEIRA

Estou em Belo Horizonte,

Em palestra e na família.

Não sei com quem hoje conte

Nestes versos para a filha.

16/09/94.

VARIG

Eu me cansei de esperar

Nesta horrível companhia,

Que já foi tão modelar

Num  passado de alegria.

17/09/94.

DOMINGO

É por antecipação

Que faço os versos de agora,

Sigo sempre a contramão

Se a inspiração vai embora.

18/09/94.

FAMÍLIA

Luto muito por meus filhos,

Luto também pela esposa,

E para Deus em meus trilhos

Vou ouvindo o som de Mozart.

19/09/94.

EXAGERO

A correria é brutal,

Não consigo respirar,

Se trabalhar não é mal

É bem mal exagerar.

20/09/94.

 

 

 

 

 

 

 

QUARTA

O São Paulo sem padrão,

Venceu por dois gols a zero,

Matando do coração

A torcida que bem quero.

21/09/94.

RENATO

Ontem Renato fez anos,

São vinte e nove que fez,

Ligaram-lhe cinco manos

Cada irmão por sua vez.

22/09/94.

REGINA

A caríssima Regina

No dia quinze fez anos,

E no seu ar de menina

Vi olhos republicanos.

23/09/94.

GRANA

Antecipo uma vez mais

A quadrinha da semana,

Eleitores seus currais

Lá vão em busca da grana.

24/09/94.

DEUS

Meu Deus teu vulto descubro

Nas orações de meu dia,

O coração fez-se rubro

E se toma de alegria.

25/09/94.

SERRA NA TV

A semana complicada

Se avizinha neste dia.

Em TV na madrugada

Falo em boa companhia.

26/09/94.

BRASÍLIA E CÍRCULO

Falo em pleno Ministério

E depois no Tribunal,

Volto à noite e do mistério

Da Cruz falo por igual.

27/09/94.

PORTO ALEGRE

Falo agora em Porto Alegre

Sobre a gente aposentada,

Que a humanidade se integra

Fazendo tudo do nada.

28/09/94.

MARIAZINHA

A mulher do bom Geraldo

Não entrou na Academia.

Faltou-lhe muito respaldo

E sobrou hipocrisia.

29/09/94.

ELIAS

A Salvador com Elias

Vou p’ra nova conferência,

Correm os meses e dias

Sem nunca haver repetência.

30/09/94.

SÁBADO

O versejar do amanhã

Faço nesta sexta-feira,

Não vejo nuvens de lã

Num céu formado de esteira.

1/10/94.

DOMINGO

E também para o domingo

Meus versos faço de vez.

Amanhã, o tempo vingo,

Por começar novo mês.

2/10/94.

COLÉGIO DANTE

 

 

Neste dia de eleições,

Voto rápido no Dante.

Sinto calmas as feições

Do eleitorado distante.

03/10/94.

PROFESSOR EMÉRITO

Recebi do meu comando

A láurea de mestre emérito,

E a alegria que ora espando,

Na minh’alma gera inquérito.

04/10/94.

LUTA

O tempo passa depressa

E o muito se torna pouco.

Eu não sei quem há que meça

A minha luta de louco.

05/10/94.

ESTRADA

Dei mais um pulo no Rio.

Nova palestra ofertada.

O tempo corre no estio

E deixa pó pela estrada.

06/10/94.

MINHA MAE

Amo-Te, Nossa Senhora

De Minha Mãe, Mãe querida,

Minha e dos meus, forte escora

Que nos sustenta na vida.

07/10/94.

PADRE XAVIER

São José, teu filho amado,

Xavier morreu de enfarto.

A dor no peito do lado

Abateu-o em pleno quarto.

08/10/94.

BONILHA

O grande Paulo Bonilha

Segura no time as fintas,

Que segue diversa trilha

Com teses mais que distintas.

09/10/94.

SANTINI

 

Mas o Santini das horas

Não tem noção por inteiro,

Do Pantanal traz esporas,

Que é dos tucanos caleiro.

10/10/94.

 

ICHIHARA

 

O nipônico Ichihara,

Bom jurista e bom juiz,

Só produz resposta rara

E faz sempre o que não fiz.

11/10/94.

JOAO DÁCIO

João Dácio fica discreto

Respeitador do debate,

É tributarista reto

Que sempre o tema rebate.

12/10/94.

GONÇALEZ

Gonçalez que fala pouco

Fala bem e fala certo

Deixa, pois, o Fisco louco

Se da lei se torna perto.

13/10/94.

MARILENE E WALDIR

Marilene e o bom Waldir

Discutem tudo por vez

E sabem bem decidir

O que se faz e não fez.

14/10/94.

VITTÓRIO

 

É por fim o bom Vittório

Robusto napolitano

Torna todo o tema inglório

Mas sabe baixar o pano.

15/10/94.

PUC

Na segunda em plena PUC,

Falo sobre o bom Direito

Que o verso a rima cotuque,

Se o versejar faz-se estreito.

16/10/94.

ACADEMIA

Na terça internacional,

Eu falo na Academia,

Reformas no pedestal

Que um novo tempo desfia.

17/10/94.

 

CONSELHO

 

 

Na quarta, no meu Conselho

Eu falo sobre tributo

E o pensamento que espelho

Na Economia faz luto

18/10/94.

CIRCULO

Na quinta, falo no círculo

Em minha casa p’ra vinte

De um Deus repleto de amor

O qual me quer com requinte.

19/10/94.

SEXTA

Na sexta, eu durmo cansado

Sem palestra por fazer

A Ruth está do meu lado

Amada de bem querer.

20/10/94.

RUTH

 

Para a casa em Jaguarí

Perto do rio e da estrada,

Eu fui, fugindo daqui

Sentindo-te minha amada.

21/10/94.

 

DOMINGO

 

Em casa, uma academia

De ginástica montei.

Gastei forças, energia

Da idade afastando a lei.

22/10/94.

 

REPETIÇÃO

 

Repeti do dia sete

A quadra À Nossa Senhora,

Corrijo e lanço confete

A Mãe que nunca demora.

23/10/94.

RUTH

Uma segunda confusa,

Cheia de muito trabalho,

Ruth sempre doce musa,

Relembra o canto do orvalho.

24/10/94.

 

EDILBERTO

 

O Círculo do Edilberto

Está repleto de novo.

Eu falo de todos perto

E Cristo Senhor eu louvo.

25/10/94.

 

ROLIM

Falo só para empresário

No curso do bom Rolim,

Depois rezo meu Rosário

No mês de outubro no fim.

26/10/94.

QUINTA

Neste dia vinte e sete

À noite busco a leitura.

Filosofia compete

Com um livro de pintura.

27/10/94.

 

SEXTA

 

Chego tarde do trabalho,

E chego muito cansado.

Nem sei mais o qu’hoje valho

Quando eu olho de meu lado.

28/10/94.

 

SÁBADO

 

O Maurício vai comigo

Tirar chapa do pulmão.

Demonstra ser bom amigo

E que meu peito está são.

29/10/94.

 

DOMINGO

 

Vejo só pancadaria

E um mau juiz de futebol

Rouba e faz patifaria,

Tem na boca um urinol.

30/10/94.

SEGUNDA

O cavalo do Edmundo,

Na testa do bom André,

Fez um corte bem profundo

Dando soco e pontapé.

31/10/94.

NAVES DOS SONHOS

Com muito atraso no mês

Refaço a primeira quadra.

Naves dos Sonhos, por vez,

Descobrem rumos da esquadra.

01/11/94.

MORTOS

Os mortos, no dia dois,

Eu lembro nesta cantiga.

Desta vida é que depois

A morte vem, terna amiga.

02/11/94.

PASSO

Corremos o dia três

Com trabalho e com cansaço.

Apenas começa o mês.

Eu faço e refaço o passo.

03/11/94.

DIA 4

Ficou o tempo perdido,

Mas recupero no esforço.

Esqueço bem esquecido

O tempo já com reforço.

04/11/94.

IDADE

Eu sinto o peso da idade

E sinto muito de perto.

Contestar não sei quem há-de

O descobrir do deserto.

05/11/94.

CADA PASSO

Eu continuo escrevendo

Na busca de novo espaço,

Caminho vendo e revendo

O que faço a cada passo.

06/11/94.

SETE

O dia se faz no sete

E a noite descobre o dia

De estrelas lança confete

Para ver tua alegria.

07/11/94.

OITO

  

Eu olho para a parede

E vislumbro um quadro à óleo

Gostaria de uma rede

Numa vida sem escolho.

08/11/94.

 

NOVE

 

O verso do dia nove

Eu faço num dia feio,

Embora feio não chove

E o dia corre sem freio.

09/11/94.

CÂMARA

 

Ouço, na quinta, o coral

Na Câmara, em que falei,

Falei só sobre moral

Que para os bons torna lei.

10/11/94.

ONZE

Um parecer para a NEC

Eu faço neste momento

Se escrevo não uso breque

Na busca de um bom intento.

11/11/94.

DOZE

Procuro ver amanhã

Que verso já tenho feito.

A glória humana é tão vã

Somente Deus é perfeito.

12/11/94.

FÁTIMA

Um verso de aniversário

Para Fátima componho.

Tem de trabalho um rosário,

Embora viva no sonho.

 13/11/94.

VEJA

A canalhice na Veja

De um homem caricatura,

Explode –que o mal lhe seja–

Em tom de baixa estatura.

14/11/94.

RADAR

A cabeça no intestino

Tem o porco do Radar,

Seguindo o podre destino

Que o faz o mundo odiar.

15/11/94.

AMIGOS

A multidão dos amigos

Protestou contra o bandido

De uma figueira sem figos,

Foi o repórter cuspido.

16/11/94.

MANAUS

 

 Para falar em Manaus

Parti na tarde de quinta,

Mais alto que os vara-paus

Vi a Amazônia sem tinta.

17/11/94.

 

MAGISTRATURA

 

Só para a Magistratura

Falei hoje de manhã,

À tarde ganhei altura,

Nos céus vi nuvens de lã.

18/11/94.

 

DE NOVO

 

E de novo eu antecipo

Os versos para a semana,

O tempo no céu eu ripo

Sem ter na mão uma cana.

19/11/94.

PARA RUTH

  

Um verso para o lirismo

Que por você sempre tenho,

No sonho faço alpinismo

E teu rosto em mim desenho.

20/11/94.

 

A promessa chega ao fim,

Alguns dias mais e só.

Longe estou de meu jardim,

Hoje reduzido a pó.

21/11/94.

TERÇA-FEIRA

Terça-feira, vinte e dois.

O mês acaba depressa,

Não como feijão e arroz,

Nem como comida à bessa.

22/11/94.

IVES FILHO

 

Uma palestra do filho

Após a fala do pai,

Segue sempre o mesmo trilho

E de seu rumo não sai.

23/11/94.

 

DUAS VEZES

 

 

Pela manhã duas vezes

Falo sobre temas vários,

Minha vida todos meses

Assim é e sem salários.

24/11/94.

 

SEXTA-FEIRA

Finalmente, sexta-feira.

Aos Walds um bom jantar

Ruth prepara, na esteira

De quem sabe preparar.

25/11/94.

BALÉ

Fomos os dois ao balé

De Paris. O Presidente

E o Prefeito, andando a pé,

Viram a dança excelente.

26/11/94.

SÃO PAULO

O São Paulo, o Fluminense

Bateu com muita expressão.

Há muito que ele não vence

Meu Clube do coração.

27/11/94.

ERMA

Regina ficou enferma

E todos nos preocupamos.

A planície faz-se erma

E perdemos nossos anos.

28/11/94.

IASP

Comemorou cento e vinte

A morada do Jurista.

A feste teve requinte

Com muita gente na lista.

29/11/94.

O VELHO OZIRES

O velho Ozires fugiu

Do debate desta tarde,

Desfigurou seu perfil

E restou como covarde.

30/11/94.

LEMBRANÇA

Em primeiro de Dezembro,

Neste derradeiro mês

Dos velhos tempos me lembro

E lembro de uma só vez.

01/12/94.

MULTA

Um dia bem complicado

Muito trabalho e consulta.

No trânsito, acinturado,

Eu fujo de toda a multa.

02/12/94.

DIA 3

 

Estamos no dia três

De Dezembro, mês final

Quem fez o que fez já fez

E quem não fez se deu mal.

03/12/94.

 

DOMINGO

 

Antecipando o domingo

Os quatro versos componho,

Das maldades não me vingo

E o coração abro ao sonho.

04/12/94

 

DIA CINCO

Dia cinco foi segunda,

Falei no almoço da Anfac,

Bem perto da Barra Funda

E não falei de Bilac.

05/12/94.

 

DIA 6

 

A discussão no Conselho

Foi sobre tributação.

Ninguém meteu o bedelho,

Nem sentiu exploração.

06/12/94.

 

 DIA SETE

 

Na Gazeta ao 1/2 dia

Falei de um Collor sem céu,

Mas a Procuradoria

Fez a defesa do réu.

07/12/94.

 

DIA OITO

Ganhei o Colar do Mérito

No Tribunal de Justiça,

Não foi necessário inquérito

Em homenagens inteiriça.

08/12/94.

 

DIA NOVE

 

O São Paulo de meninos

Ganhou do velho Corinthians.

Os jovens têm um destino

de dribles, chutes e fintas.

09/12/94.

 

RUTH

 

O sábado na piscina

Passamos desde manhã.

O teu olhar de menina

Torna minha imagem vã.

10/12/94.

 

DOMINGO

  

Como sempre eu antecipo

Minha quadra de domingo.

Não gosto da rima em ingo

E, às vezes, tal rima xingo.

11/12/94.

 

SEGUNDA-FEIRA

 

Dezembro corre depressa,

Corre tanto quanto a vida.

Não há quem o tempo meça

Desde que dei a partida.

12/12/94.

RUTH

 

Sobre o Collor na TV,

Pela rádio e no jornal,

Falei lembrando você

De vestido e de avental.

13/12/94.

 

RIO

 

Irei à tarde p’ro Rio

Falar sobre a lei suprema.

Do tempo não mais me fio

Neste meu estratagema.

14/12/94.

 

QUINTA

 

Para a posse de Maurício

Fui a Brasília na quinta.

A fila não foi súplicio

Na cena que o artista pinta.

15/12/94

 

SEXTA

 

Tivemos com o Renato

Na sexta, almoço e jantar

O menu era sem pato,

Mas com carne de esbanjar.

16/12/94

SÁBADO

 

Stargate com Rogério

E Regina eu assisti.

Um filmão só de mistério

Como de há muito não vi.

17/12/94.

DOMINGO

Neste quarto de advento

Fui a missa e com meus pais

Falei muito. Chuva e vento.

Ontem, hoje. Foi demais.

18/12/94

DIA 19

Segunda-feira, penúltima

De quatro com mais noventa

Logo, logo, será última,

Com a lira bem mais lenta.

19/12/94

DEZENOVE

Começo nova semana

Com febre e dor de garganta.

Faz-se a trabalheira insana

E a moléstia assim se espanta.

19/12/94

 

TERÇA

 

Passo mal na terça-feira

Mas trabalhando não paro

Não pensei fosse besteira

Trabalhar ficou me caro.

20/12/94

 

DIA 20

 

 

Com Mário Covas de frente

Almocei às duas horas,

Eu não sei quem há que invente

Um almoço sem esporas.

20/12/94

QUARTA

Dois médicos, minha dor

É grande, mas vou em frente

Dou assim a minha cor

Ao dia, mesmo doente.

21/12/94

QUINTA

Quinta-feira não aguento

À tarde vou para casa

Os médicos, no relento,

Dão aos pensamentos asa.

22/12/94

SEXTA

Sexta-feira novo exame

Febre e dor e nada mais

O doutor crê que o derrame

Não tirará minha paz.

23/12/94

VINTE E QUATRO

Sábado, morro de dor.

Vou direto pro hospital

E passo à noite melhor

Com a família no Natal.

24/12/94.

DOMINGO

O bisturi no pulmão

Penetra em pleno Natal.

Bem do lado do Osmarzão

Fico à noite no Hospital.

25/12/94.

SEGUNDA

D’UTI para meu quarto

Eu retorno ao meio dia,

Muitos amigos, que enfarto

Quase tive de alegria.

26/12/94

TERÇA

Na segunda, a operação

Doeu muito à noite inteira

Porém, na terça mais são

Vi quanto fiz de besteira.

27/12/94

QUARTA

Minha mulher é uma santa

Minha filha encantadora

Meu filho minh’alma encanta

Sem namorados de fora.

28/12/94

QUINTA

Quinta eu me sinto melhor

Amigos, irmãos e pais

Dão um show que nem de cor

Eu vi outros shows iguais

29/12/94.

SEXTA

Amanhã, eu sairei

Do leito para o meu lar

Graças ao Senhor Meu Rei

E a Mãe do mais doce olhar.

30/12/94

REGINA

E termino minha filha

A promessa que lhe fiz.

Teu reto caminho é trilha

Que te fará ser feliz.

31/12/94