01-31 – O PREÇO D’ALMA

Atípico este mês. Último dia.
Um domingo chuvoso como todos.
Minha luta transforma-se em porfia
Como as águas tiradas pelos rodos.
Voltam sempre por mais que são tiradas,
O que importa, porém, é não parar.
Na vida, caminhamos por estradas,
Que podem descobrir o imenso mar.
As dores, os fracassos ou sucessos
No pouco tempo nosso, pouco são.
Se soubermos vencer nossos regressos,
Manteremos saudável, o coração.
Quem fica acima de qualquer tropeço,
Su’ alma para Deus já não tem preço.
SP, 31/01/2010.

01-30 – COM AMIGOS

No sábado convivo em bom descanso
Com dois casais de amigos e com Ruth,
Em meu diário este soneto avanço
Sem que alguém por tais versos bem escute.
São Natalie, Alexandre mais Luiz
E Sílvia que conosco aqui estão
Falamos deste mundo e do país
Com calma, mas, às vezes, com paixão.
O jantar ocorreu na Casa Bela
E teve a companhia do prefeito.
Os pratos foram bons e sem seqüela,
Malgrado a chuva, o dia foi perfeito.
Uma amizade assim bem vale a pena,
Na vida dominando toda a cena.
SP, 30/01/2010.

01-29 – SETENTA E CINCO

A homenagem que sei não merecer
Receberei no mês de Fevereiro.
Os convites descobrem bem querer
E entre muitos se espalham por inteiro.
Escreveram quarenta e dois amigos.
Dizendo que escrever lhes fez felizes,
Esqueceram-se todos os perigos
Que o louvor traz consigo nos países.
O livro tem por título “Ives Gandra
Palavra”. Publicado por Migalhas.
Não sei se as cores tem de salamandra,
Nem sei se descobriu as minhas falhas.
Na gratidão, portanto, o pé eu finco
Quando faço eu assim setenta e cinco.
SP, 29/01/2010.

01-28 – TEMPO FINITO

O tempo se desfaz todos os dias.
Começa de manhã e morre à noite.
Ninguém recebe cartas de alforrias,
Nem qualquer vida passa sem açoite.
Pensamos ser eterno o transitório,
E transitório o que se faz eterno.
Está-se em permanente suspensório,
Sem perceber-se que é chegado o inverno.
A Deus que nos criou nem sempre Vamos,
Embora nossos atos julgará,
Um domingo vivemos só de ramos,
Depois vemos a cruz que O pregará.
Na existência forjada no seu rito,
Nosso tempo se faz tempo finito.
SP, 28/01/2010.

01-27 – ELIDIA

A minha terapeuta é japonesa,
Tal qual seu povo é muito delicada,
Mas a força que tem com a destreza
Dos samurais parece ser a espada.
O que sofro compensa o bem estar,
Após cada sessão desta tortura.
Quem tem a minha idade reclamar
Não pode quando a mão se faz segura.
O soneto, portanto, deste dia
Eu lhe dedico, calmo e sem perfídia,
Dos que me cuidam em Santa Confraria
Pertence e tem por nome o nome Elidia.
Eu e Ruth vivemos nosso espaço,
Ultrapassando os anos, passo a passo.
SP, 27/01/2010.

01-26 – TRIBUTOS E MORTES

TRIBUTOS E MORTES.
Questão de imunidade uma vez mais,
Enfrento em parecer a elaborar.
Quando um governo gasta por demais,
Não tem p’ra quem faz bem nenhum olhar.
Há muito que o governo pouco faz,
Para os que necessitam ter amor
Saúde, educação, tudo isto jaz,
Só se salva o terceiro bom setor.
O povo do poder está cansado,
Eleitorais, consistem as promessas
Jamais cumpridas. Postas só de lado.
As tristezas no rosto são impressas.
As despesas inúteis não têm cortes,
Mas temos os tributos, temos mortes.
SP, 26/01/2010.

01-25 – SÃO PAULO CAMPEÃO

Ganhou, uma vez mais, o meu São Paulo
A copa dos meninos no seu dia,
Dos apóstolos das gentes, que foi Saulo,
O nome traz e exibe na porfia.
Levantou, por três vezes, esta taça
Que a há quase meio século foi feita.
E a meninada pôs a mão na massa
E seu mundo da bola se respeita.
Eu já fui do Conselho Consultivo
Presidente. Meu número é quarenta
Mais seis. Mantenho sempre n’alma vivo
Este querer que o coração esquenta.
Setenta e cinco como o clube eu faço,
Nesta paixão sem tempo e sem espaço.
SP, 25/01/2010.

01-24 – O 4º DOMINGO

Este quarto domingo de janeiro,
Amanhece chuvoso e semelhante
A tudo o que ocorreu no mês inteiro.
Há muito que o bom tempo está distante!
Muitas mortes, aqui gerou a chuva,
Maculando os governos sem preparo.
As desculpas não cabem numa luva
Na mão de quem do bem tornou-se avaro.
O dinheiro de todos foi mal gasto,
Em roubos, peculato e concussão,
O povo desta gente é sempre pasto,
E a luta contra é sempre luta em vão.
Quanto mais vivo, menos do poder
Eu gosto e gostarei até morrer.
Jaguariúna, 24/01/2010.

01-23 – PARA RUTH

PARA RUTH
Confesso que esperava ser mais fácil,
Um soneto por dia eu escrever,
Diria um espanhol faltou-lhe “espacio”,
No seu pobre talento a fenecer.
Perseverei a minha vida inteira,
E agora não será que pararei,
Dediquei-me à família e na carreira,
Valeu-me mais o esforço do que a lei.
O tempo é de saudade e de lembranças,
Voltando sempre ao meu passado antigo,
O tempo é também tempo de mudanças,
Um tempo que me faz estar contigo.
No fim da vida, resta-me a certeza
Que o meu viver não é por “boniteza”.
23/01/2010.

01-22 – PLANO E PODER

PLANO E PODER.
Com todos meus amigos quando falo
Do plano de direitos desumanos,
Sem exceção, desejam pelo ralo
Do esquecimento pô-lo por uns anos.
O plano não é ruim, é um plano péssimo,
Imposto sem debate aos brasileiros.
Dele não se salva nem um décimo,
Pois um plano repleto de vespeiros.
Um golpe representa, à luz do dia,
Aos valores supremos da Lei Prima.
Atinge, por ser vil, democracia,
Afastando do ser qualquer estima.
Um grupo, sem ter voto, quer poder
E não soltá-lo mais até morrer.
SP, 22/01/2010.